domingo, 20 de novembro de 2011

ENTREVISTA COM O PINTOR FELIPE GÓES






















1 – Quando ocorreu seu contato inicial com a pintura?



Desde a infância tenho interesse em criar coisas, construir objetos, desenhar e pintar. Recentemente, esse envolvimento com a pintura se intensificou e com isso veio a necessidade de compartilhar com os outros minha produção, ouvir opiniões, rever conceitos. Isso é essencial para o desenvolvimento do trabalho.


2 – Quais são suas influências no campo da pintura?

Refletindo sobre essa questão das influências – e sobre porquê algumas delas mudam com o tempo e outras continuam nos apoiando por longos períodos – vemos que o artista não é apenas passivo na absorção de influências, e que muitas vezes é ele que busca se influenciar por determinadas referências ao longo de sua trajetória.

Essas mudanças e permanências das referências importantes vêm da necessidade interna de cada trabalho ao se desenvolver.

Dito isso, e lembrando que estamos falando de pintura, a qual possui uma gigantesca tradição na história ocidental, meu trabalho é antes de tudo uma maneira de se relacionar com a tradição, mergulhar nesse caldo e depurar algo válido no processo.

Algumas influências que sempre me acompanham foram Rothko, Volpi e Guignard. Além destes, algumas referências importantes no inicio do meu trabalho foram Bram van Velde e Richard Diebenkorn.


3 – Você se filia a uma determinada corrente de pintura contemporânea?

Não tenho a ambição de provar algo ou convencer as pessoas através da arte. Acredito que meu trabalho possui a característica intrínseca de não carregar uma mensagem que possa ser instantaneamente interpretada e, portanto, qualquer noção de Corrente, Movimento, Manifesto (só para citar alguns termos) é externa à minha produção.

Porém, ao analisarmos a história da arte vemos que essa é formada basicamente por Escolas, Correntes e Movimentos. Portanto minha resposta hoje é negativa, mas posso estar equivocado devido à ausência de um necessário distanciamento histórico.


4 – Sua pintura mescla tanto dimensões figurativas quanto abstratas, e em muitos aspectos, parece mostrar uma continuidade em ambas as dimensões, como uma espécie de complementação estética. Como o abstrato e o figurativo se determinam em sua pintura?

Interessa-me transitar nessa zona ambígua onde parece que a narrativa está para se formar, mas que de fato não se viabiliza plenamente.

Parece que em meus últimos trabalhos existe uma noção de imagem, tão cara à sociedade contemporânea, mas que diferentemente do que acontece na publicidade ou nos programas de televisão, esta imagem não carrega um significado imediato, e dessa forma torna-se impossível seu consumo instantâneo enquanto mensagem.

Assim, esse embate entre figurativo e abstrato também pode se caracterizar como um embate entre a mensagem e o silêncio, sobre essa impossibilidade de dizer algo (ou a possibilidade de não dizer nada) mesmo que através de figuras reconhecíveis.


5 – A opção por cores vivas em suas telas parece mostrar a sobreposição do sentimento como diretriz do olhar em relação às diversas paisagens que compõem sua obra. Comente esse aspecto de sua pintura.

Creio que é a relação entre as cores que define meu programa de trabalho, e como você observou existe uma sobreposição da força da cor sobre a fragilidade do assunto.

Uma observação atenta sobre meu próprio trabalho leva-me a pensar que sua força não vem das cores individualmente, e que se nós pudéssemos analisá-las separadamente veríamos que elas não são tão vivas assim. Talvez sejam até meio desbotadas e lavadas.

Considerando o que comentamos anteriormente, parece que não existe interesse em dar respostas definitivas às grandes questões, mas uma noção de admiração e assombro, mais coerente com o território incerto da arte. Provavelmente é daí que vem esse interesse pela imensurabilidade da cor, que ilude e coloca a análise no plano do sensível, onde o desenho analítico é deturpado pela imperfeição das bordas de tinta.






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