segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

JUNQUEIRA FREIRE: POEMA

(Klimt)




TAMBÉM ELA

Ela também ouviu o som das vagas
Sobre os rochedos – e talvez dissesse:
- O som das vagas que embelece os outros,
Não me embelece.

Ela também sentiu a fresca aragem
Sobre os cabelos – e talvez dissesse:
- A fresca aragem que adormece os outros,
Não me adormece.

Ela também deitou-se no sereno
Sobre estas relvas – e talvez dissesse:
- Este sereno que empalece os outros,
Não me empalece.

Ela também olhou estas montanhas
Sobre as campinas – e talvez dissesse:
- A vista delas que embevece os outros,
Não me embevece.

Ela também andou ao sol ardente
Sobre as planícies – e talvez dissesse:
- O sol ardente que enrubesce os outros,
Não me enrubesce.

Ela também provou dos cardos frescos
Sobre as areias – e talvez dissesse:
- O gosto deles que arrefece os outros,
Não me arrefece.

Ela também sentou-se neste muro
Sobre estas pedras – e talvez dissesse:
- Este quadro gentil que encanta os outros,
Já me aborrece.

Este quadro gentil agrada aos outros,
E belo todo – talvez ela dissesse:
Porém tão longe meu amor! – oh! tudo,
Tudo falece!

Sim: ela o disse merencória e amante:
Ímpios, não duvideis que ela o dissesse:
- Tão longe dele assim! sem vida tudo,
Tudo parece!


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