sábado, 12 de setembro de 2009

MAGRITTE II


POEMAS

Wittgenstein


Saber-se de antemão mudo
e no entanto dizer
a quem se dispõe ouvir
o que não pode ser dito



Chuva


ouvir a chuva
silenciar palavras
recolher sobras
diárias
da convulsão
humana

sentir a chuva
aproximar pessoas
acolher o tempo
desigual
endêmico

lavar as mãos
de quem só soube tê-las

fechadas



Ser


Breve
pulsar
de uma
libélula.
Apenas
a possibilidade
de ser.
(– As folhas,
ressequidas
pela
estiagem!)
Supostamente
gratuita
a alegria
dos meses.
Ilusão
de felicidade:
eterna
realização
do vivido.



Meditação sobre ruínas


Em seu convívio com o extremo
fruto algum será colhido.
Reclamas pela felicidade
em um mundo aliciado pelo passado.



Meditação sobre ruínas II


As dissidências do tempo.
Intermitente ânsia de sonhos.
Outrora luz, hoje esquecimento.




O jansenista


A promiscuidade dos séculos.
Estar morto e não sabê-lo.